terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

NÃO ANDO EM LINHA RETA


O medo pode fazer você congelar.
Pior que isso, pode te silenciar.
A primeira vez que questionei minha teologia, quando realmente descobri minha sexualidade, fiquei apavorado. Não um pavor de Deus (pois sei que Deus, sendo um Deus total, era suficiente para lidar com minhas sortidas dúvidas), mas do povo de Deus.

Como muitos cristãos, me encontrei dentro de uma comunidade espiritual que, mesmo extremamente amorosa, era altamente condicional. Ficou nítido para mim que houve uma aceitação, mas sempre senti como se estás coisas fossem condicionadas, acreditando que eu aceitava. Fui feito como um insider, amado principalmente pelas minhas virtudes e convicções religiosas tradicionais.

Em outras palavras, minha ortodoxia foi meu cartão de sócio do clube, proporcionando-me as regalias e privilégios que vinham juntos com ela. Enquanto não vacilei, permaneci firmemente embalado no seio do corpo. Mas, indo para longe do caminho "reto", as coisas ficaram bem feias, muito rapidamente.

Às vezes, isso se apresentava a mim nos insultos e ostracismo ou, em tratamentos condescendentes que assistia outros abertamente receberem por conta de suas lutas.

Outras vezes em sermões incendiários, territoriais e bairristas, Nós Contra Eles, uma linguagem retórica pregada nos púlpitos para vilipendiar cristãos com preguiçosos rótulos de Heréticos e Pródigos.

Às vezes se evidenciava nas respostas agressivas que encontrava esperando por mim naqueles momentos em que reunia coragem para dar voz as minhas indecisões e dúvidas cristãs.

Como resultado dessas descobertas, tendi a permanecer em silêncio, em uma profunda luta interna, escolhendo procurar a esperança sozinho, em lugares escuros, em vez do risco do ostracismo e condenação que se daria se visse dar luz às minhas indecisões.

Minhas tensões espirituais internas cresciam, assim como minha angústia, e, gradualmente me distanciei de meus colegas cristãos. Mudei para uma prática religiosa de duplicidade; vivendo uma realidade dentro do meu coração, e outra nos bancos da igreja. Especialmente como pastor, mais perguntas me eram suprimidas, minha fé tornou-se cada vez mais uma viagem solitária que beirava a crescente hipocrisia.

Devo fazer a mea-culpa, apesar de meus irmãos e irmãs na fé e da igreja terem sido fatores que contribuíram para meu silêncio, grande parte da culpa é minha. A mesma pressão que me fazia não falar, me tornava cúmplice de uma conspiração a sucumbir a essa pressão. Embora ela tenha vindo com grande pesar e tristeza, em última análise, eu escolhi meu silêncio.

Isso é como tudo funciona. É assim que o sistema se torna toxico e alimenta o baile de máscaras.

O mesmo belo sentimento de pertencer a um propósito comum que une as pessoas na igreja e as fazem sentir uma incrível afinidade umas pelas outras, muitas vezes é o que perpetua a charada da fé inamovível que sobrecarrega muitos de nós.

Só consegui entender tudo isso ao sair totalmente fora da igreja por um tempo. Percebi que não havia o que temer, mas muito a ganhar com uma nova revelação, consegui finalmente perceber como tinha me punido injustamente por tanto tempo.

Cristianismo, hoje entendo, é encontrar sua fé na mudança: não há problema em mudar sua mente.

Não há problema em questionar as coisas que você costumava ter certeza, para chegar a conclusões teológicas diferentes das que você tinha anteriormente, ou encontrar-se em formas diferentes, que desafiam a ortodoxia. Isso não é pecado.

A igreja faz um trabalho muito bom em engrandecer a firmeza como uma virtude a ser cobiçada, e, certamente há um grande mérito em uma crença que persevera através de uma difícil temporada, mas, firmeza constante não é necessariamente admirável. Muitas vezes, é mais uma autopreservação do que qualquer outra coisa.

Paralisado pelo medo de ser separado/a da comunidade, a fé inabalável pode ser simplesmente a fé que não reconhece suas questões profundas. Pode ser a fé que se recusa a responder o que está sendo revelado pelo tempo e pela experiência por causa da adversidade que trará a outras pessoas cristãs. Pode ser a fé do medo de se mover por causa da tempestade que tal movimento irá gerar.

Dúvidas, perguntas e as mudanças de coração e mente são questões de fé (mesmo as mais fundamentais), não defeitos de caráter ou falhas morais. Pelo contrário, muitas vezes, elas são as mais bravas e o melhor lugar para a honra de Deus residir, pois são as mais autênticas.

Você não deve nada ao mundo, se entregue da forma mais plena e respeitosa que possa gerenciar. Essa é a grande verdade que liberta.

Sempre que escrevo ou falo sobre questões de fé pessoal ou profissional, tento fazê-la de uma forma absolutamente honesta. Isso significa que voluntariamente me exponho em desacordo com o meu eu mais jovem, mas tenho uma grande paz com isso. As pessoas cristãs que conheci, não viram o que vivenciei ou experimentei. Elas foram sérias e falaram suas verdades, como faço agora. Nós não precisamos comparar as notas ou manter nossas histórias em linhas retas.

A vida deve nos mudar. Deve renovar nossas almas e ajustar nossas lentes. O tempo, a experiência e as coisas que lemos, vemos e descobrimos deve nos mudar, ou provavelmente estamos mais comprometidos com uma aparência de consistência do que com um crescimento real. Não tenho mais o entendimento de mim mesmo, de Deus e do mundo que tinha a vinte anos atrás, e, posso dizer que não sou orgulhoso para suspeitar que o mesmo não será verdade daqui a duas décadas.

Assim você pode usar minhas palavras de anos atrás para tentar minha posição atual, assim como é livre para usar essas palavras em algum dia no futuro de forma similar. Isto não me preocupa. Minha responsabilidade sobre essas grandes questões, não é fornecer uma resposta esperada para aplacar uma multidão ou manter as aparências para uma boa posição em um clube, mas simplesmente de procurar ser honesto o quanto posso a qualquer momento.

Isso é tudo que somos obrigados a fazer bem.

Deus não é inseguro ou se irrita tão facilmente como aqueles que dividem nosso espaço de adoração. Deus está contente com a profundidade de nossa busca pessoal, e, da integridade de nossa estrada, e entende nossas conclusões melhor que ninguém.

Imaginem se criássemos comunidades eclesiais onde desvio teológico e dúvidas espirituais não fossem bandeiras ou preocupações de orações; onde todos pudessem falar a verdade mais verdadeira, sem medo de serem empurrados para as margens ou excluídos. Quão diferentes poderiam ser nossas viagens? Quão mais ricas poderiam ser nossas comunidades?

Amigo/amiga, onde quer que esteja hoje em seu caminho, descanse.

E, independentemente do que sinta, pense, acredite e professe hoje, se, algum dia no futuro se encontrar em um lugar diferente, lembre-se: não há problema em mudar de ideia e falar dela.

Baseado no texto de John Pavlovitz.

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