quinta-feira, 30 de abril de 2015

SIM, A HOMOSSEXUALIDADE É UMA ESCOLHA


CONFISSÃO DE TEMPO
Para todas minhas irmãs e irmãos cristãos que insistem que a homossexualidade é uma escolha, preciso reconhecer e, finalmente, admitir uma coisa: concordo com vocês.

Acredito absolutamente que é uma escolha, só não da maneira que vocês acreditam.

 

Mas acho que em grande parte esse é o ponto crucial do problema que temos. Acho que usam seus termos muito vagamente, sem realmente pensar neles. Quando dizem com bastante naturalidade em suas matérias que a homossexualidade é uma escolha, não tenho certeza se realmente sabem o que querem dizer com "homossexualidade".

 

Muito frequentemente alguns cristãos afirmam que ser lésbica, gay, bissexual, travesti e transexual é pecado; e o fazem, sem realmente perceber que estão reduzindo todas essas pessoas a um mero ato sexual; como se isso por si só definisse sexualidade.
 
Negam qualquer componente emocional em suas vidas; qualquer capacidade de sentir o verdadeiro amor ou mostrar afeto genuíno em direção a outra pessoa.
 
Em uma simplificação grosseira estão rotulando completamente um ser humano formado de forma muito complexa a um mero executor do ato sexual.
 
Isso é algo que nunca fariam com a heterossexualidade, e especialmente com sua própria sexualidade, pois entendem implicitamente que sua orientação sexual é muito mais que um ato físico. É uma parte muito mais profunda de quem si é.
 
É sobre coisas muito maiores do que apenas encanamento e ginástica.
 
Sabem que em suas próprias vidas o ato físico do sexo não é a totalidade de sua sexualidade; que existe também afeto, companheirismo e o desejo de amar e ser amada(o). É sobre para quem você é atraído e obrigado a estar perto.
 
Em suas próprias histórias experimentaram essas coisas em primeira mão, antes de passar pela experiência do ato sexual. Nos momentos em que começamos a entender nossa própria identidade sexual, ela se esgueira para cima de nós e nos surpreende. Não houve provavelmente nenhuma batalha interna, nenhuma grande luta, nenhuma escolha consciente real a ser feita.
 
Não foi uma decisão que tomaram, mas uma realização.
 
Como aluno da terceira série me lembro que costumávamos jogar vôlei no pátio da escola durante o recreio; meninos contra as meninas. (Os meninos viam as meninas como "germes", que deviam ser evitadas, ou, seriam tocados e imediatamente infectados). Lembro que em uma tarde ensolarada, uma garota chamada Lori me perseguiu fumegante por toda escola. Nesse momento algo me atingiu enquanto corríamos através do pátio. De repente percebi que não queria mais ficar longe de Lori. Na verdade queria que ela me pegasse!
 
Naquele momento, não houve nenhuma decisão (a não ser a decisão de iniciar a execução de um conjunto muito mais lento).
 
Depois disso, ao decorrer das próximas semanas, meses e anos era revelado mais e mais ao longo do tempo a descoberta que em nenhum momento foi escolhida.
 
Cristãos, provavelmente vocês lembram disso em suas próprias histórias de identidade sexual e auto-descoberta não é? Vocês simplesmente, naturalmente e involuntariamente sentiram os impulsos.
 
Ao seguir esses impulsos vocês também estavam fazendo uma escolha. A escolha de serem autênticas(os) e verdadeiras(os) para seu coração e liderança de mente. Vocês estavam escolhendo concordar com a verdade sobre como amam. Alternativa que nunca foi uma opção.
Por que é tão difícil acreditar que as pessoas LGBT estão operando de forma diferente?
 
Muitos cristãos gostam de dizer que uma pessoa LGBT "luta com sua sexualidade", que é geralmente incorreta. Quando na realidade, na maioria dos casos, estão lutando contra a forma de como os cristãos os trata por causa de sua sexualidade. Estão lutando para evitar a condenação, estão lutando para ficarem escondidas(os) e protegidas(os) das(os) valentões(as), para permanecerem nas comunidades de fé onde são maltratadas(os) e desprezadas(os).
 
Seus conflitos geralmente não é com a sua sexualidade ou com Deus, mas com o povo de Deus.
 
Povo esse que é bastante descuidado no trato com a comunidade LGBT, como se ela tivesse escolhendo seu caminho de orientação, pois é isso que insinuam quando naturalmente afirmam que ela está por um fio de ser correta, mas tomam conscientemente a decisão de agirem na oposição disto. Estão cobrando-lhes uma traição emocional muito profunda.
 
Será que o pensamento de que uma pessoa pode sobrepor sua própria vida está em todos? Isso significa que se pode muito bem escolher entre ser LGBT ou ser heterossexual. Significa também que através de uma boa persuasão, apoio e prece uma pessoa heterossexual pode escolher ser atraído a desejar alguém do mesmo sexo.
 
Se arrepiaram com essa ideia? (Especialmente vocês homens cristãos heterossexuais Super viris) Acham que esse conceito é realmente ofensivo?
Bom. Deve ser.
 
Não faz sentido e é um insulto à suas integridades pessoais. Essa ideia simplesmente desafia qualquer lógica que vocês, eu, ou qualquer um escolha o caminho que seus corações devem trilhar.
 
Sei que alguns esperam pelo menos clamar pelo hipotético (pois me indagam todos os dias), "Bem, se você afirma que a homossexualidade é natural, a pedofilia também está OK?"
 
Se quiserem realmente comparar duas ou dois adultos conscientes vivendo em uma afeição mútua, companheirismo e amor em relação um(a) com o(a) outro(a) com uma relação em que o(a) adulto(a) pega uma criança exclusivamente para sua satisfação sexual, isso é com vocês, mas acho a comparação francamente ridícula, e mostra um total e preocupante desrespeito para com a humanidade da população de adultos LGBT.
 
O mesmo vale para o hábito que algumas pessoas religiosas tem de igualar a comunidade LGBT com aqueles que se sentem compelidos ao uso abusivo de drogas ou até mesmo de matar e roubar, essa razão é bem simples de explicar: Essas coisas trazem destruição, violência e danos. Essas populações fazem parte das pessoas que desejam algo inerentemente prejudicial. (E simplesmente dizem: "Eles se danificam aos olhos de Deus").
 
Independentemente das tentativas de muitos cristãos de afirmarem o contrário, dois seres humanos LGBT envolvidos em um relacionamento amoroso não são danificados um(a) pelo(a) outro(a). São como os relacionamentos amorosos heterossexuais; encorajadas(os), desafiadas(os), enriquecidas(os) e apoiadas(os) um(a) pela(o) outra(o). (Se não querem acreditar em minha palavra, pergunte a elas(es).
 
Não podemos continuar ignorando esta distinção crítica que fazemos em torno de nossas demonstrações cobertas sobre a comunidade LGBT. É hora de nós, os que afirmam tanto o cristianismo quanto a heterossexualidade, fazer algumas perguntas muito difíceis sobre o que realmente queremos dizer quando falamos que a homossexualidade é uma escolha, e que esta escolha é pecado.
 
Quando usamos as palavras desta forma muito limitada e restrita, assumimos que nossas próprias inclinações, e não apenas o sexo; mas o carinho, a intimidade, companheirismo, romance e amor, estão todos dentro do nosso controle e são modificáveis; envolvem uma decisão em qualquer nível.
 
Também supomos que a qualquer momento podemos ter relações sexuais com alguém, e que sempre será uma atividade desligada e desprovida de amor. Se escolhermos esse caminho, abrimos a nossa própria sexualidade expansiva para reduzi-la a perspectiva de apenas um ato sexual.
 
Além disso, temos que olhar para as Escrituras e perguntar se realmente aquele punhado de versos se refere a uma pessoa com inclinações para o amor, carinho e companheirismo ou apenas se refere a alguém fazendo algo com suas partes do corpo, e também perguntar como podemos aplicar esses versos a seres humanos reais de carne e sangue que procuram relacionamentos autênticos.
 
O que os escritores da Bíblia se referiam quando usaram as palavras hoje traduzidas como "homossexualidade"? (Tal palavra não existia quando ela foi escrita, por isso esta é uma questão crucial para se perguntar e procurar responder bem).
 
É de extrema necessidade dialogar sobre as palavras que são importantes, mas também precisamos abandonar as que são inúteis.
 
Não existe essa coisa de "estilo de vida heterossexual", assim como não há estilo de vida homossexual. Tais termos não têm significado ou valor real. Eles não falam nenhuma verdade sobre qualquer um de nós. Não servem de nada, apenas para humilhar, insultar e evitar o diálogo respeitoso entre as pessoas.
 
Devemos jogá-las no lixo e se atrever a fazer perguntas muito mais difíceis sobre como amor, carinho, intimidade e sexo estão ligados em todos nós.
 
Como indivíduos heterossexuais, não podemos exigir não ser desenhados com grande detalhe e precisão, ao tempo, em que grosseiramente caricaturamos a comunidade LGBT. Seus corações são tão vastos como os nossos, e suas histórias preenchidas com todas as nuances e complexidades que temos experimentado nas nossas.
 
Sim, as pessoas LGBT fazem uma escolha.
 
Escolhem ser as versões mais honestas e autênticas de si mesmos. Escolhem ser lideradas pela direção não filtrada de seus corações, assim como você e eu somos. Escolhem ceder às coisas que em toda a nossa vida não poderemos escolher.
 
As únicas opções relevantes para os cristãos heterossexuais é tratar ou não a comunidade LGBT como seres humanos totalmente inteligentes e emocionalmente complexos, e se estaremos dispostos a examinar nossas opiniões pessoais e nossa teologia em conformidade.
 
A escolha é nossa.

BASEADO NO TEXTO DE JOHN PAVLOVITZ 

 

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