segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Saias justas de quem passa o 1º Natal com o parceiro gay na casa da família

Aprenda com a experiência dos casais que já passaram por essa situação. Para especialista, sinceridade é a melhor maneira de lidar com esses momentos

“Por que o tio e o amigo dele dão um presente só?”. Com uma sinceridade desconcertante típica de uma criança, o sobrinho do professor de Filosofia e Sociologia Júnior Miranda, 29, o questionou no primeiro Natal em que ele decidiu levar o namorado para celebrar a data com sua família, há dois anos.
Superados os segundos de mudez que a pergunta repentina causou, Miranda conseguiu explicar para o menino que o estudante de direito Daniel Góes, 22, era na verdade o parceiro do tio e não o seu amigo.
Assim como Júnior, qualquer homossexual que leva um (a) parceiro (a) pela primeira vez para passar o Natal na casa dos pais pode se defrontar com momentos de saia justa como esse, principalmente se nem todos os familiares sabem da orientação sexual de um parente. Nestas situações, o melhor a se fazer é não mentir, na opinião da educadora Edith Modesto, presidente do Grupo de Pais de Homossexuais (GPH).
Da mesma forma que a mentira, Modesto recomenda que se evitem surpresas nestas situações, como a ideia de sair do armário para membros da família em plena noite de Natal. “É um processo que deve ser desenvolvido com calma. É um caminho trilhado, não precisa ser um confronto. Você fala primeiro com os pais e com as pessoas mais próximas e depois eles vão falando com as outras pessoas, como os parentes mais velhos”, aconselha a educadora.
É um processo que deve ser desenvolvido com calma, não precisa ser um confronto. Você fala primeiro com os pais e com as pessoas mais próximas e depois eles vão falando com as outras pessoas (Edith Modesto)
Passados dois anos da primeira vez em que Daniel esteve na casa de Góes, os parentes de ambos lidam sem constrangimentos com a presença de ambos nas festas familiares. “Meus sobrinhos chamam meu namorado de tio. Minha sogra, que é evangélica, me chama genro. Não há saia justa”, relata o professor.
A naturalidade dos sobrinhos de Júnior em lidar com a questão não é uma exceção. ”Crianças não têm preconceito internalizado. É fácil explicar para elas o que é um casal gay, o que são duas pessoas que se amam. O meu conselho é falar do assunto o mais cedo possível. Porque acaba com o preconceito antes de ele acontecer”, analisa Modesto.
Arquivo pessoal
Para a surpresa do casal, o avô do publicitário Rodrigo Turra reagiu bem a presença do namorado dele, o VJ André Pimenta, na festa de Natal da família

Alguém que discrimina um filho ou parente seu por conta da orientação sexual não deve estar ali. Não dá para ser flexível nestas horas (Edith Modesto)
Num relacionamento de quase seis anos, o publicitário Rodrigo Turra, 24, e o VJ André Pimenta, 25, sempre passaram o Natal separados, cada um com sua respectiva família. Mas no ano passado, eles decidiram ir para a casa da família de Rodrigo no Rio Grande do Sul. “Foi tranquilo, até porque o namorado do meu irmão, que também é gay, estava lá. Minha mãe é ótima na cozinha e passou o tempo todo ouvindo os elogios dos genros”, conta o publicitário.
Arquivo pessoal
Cleiton Fujimura passou por um constrangimento ao servir um prato para o pai de Jun Fujimura
O único receio do casal era a reação do avô de Rodrigo “Ele é bem machista, cabeça dura. Mas por algum motivo, ele entendeu que éramos um casal como qualquer outro”, relata o publicitário. Em casos que não sejam tão felizes como esse, é preciso ter uma postura mais afirmativa, segundo Modesto. “Alguém que discrimina um filho ou parente seu por conta da orientação sexual não deve estar ali. Não dá para ser flexível nestas horas”.
Esconder a orientação sexual do filho ou familiar também não é uma boa opção. ”Não dá para dizer que aqueles parceiros são amigos. Se eles são um casal, eles têm que agir como tal para que as pessoas passem a lidar com a questão como algo normal, como de fato ela é”, enfatiza a educadora.
Além da ansiedade de ir pela primeira vez na casa do marido, o atendente Cleiton Fujimura, 32, teve que lidar com fato de os sogros serem de outro país e de outra cultura, bem diferente da do Brasil. O brasileiro e namorado japonês, o bancário Jun Fujimura, 29, vivem em Nagoya, no Japão.
“Os pais dele aceitaram bem a nossa relação. Eles tinham mais receio com o fato de eu ser estrangeiro do que com o fato de eu ser gay”, observa Cleiton, que passou por uma saia justa ao servir um prato brasileiro para os sogros. “Comprei uma farofa num restaurante brasileiro e o pai dele acabou se engasgando na hora de comer. Fiquei tenso, mas acabou dando tudo certo”, finaliza o atendente.

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